segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Nota sobre Velhice

É importante não esquecer que os idosos também são pessoas, e, como tal, ter plena consciência da sua capacidade malévola. Digo isto porque não poucas vezes deixamos atravessar o senhor de bengala fora da passadeira ou damos a vez à senhora de cabelo imaculadamente branco na caixa de super-mercado, enternecidos pelos anos de vida que testemunharam e numa espécie de homenagem à sua resiliência que invejamos e esperamos alcançar. Todavia estas acções não podem ser preferenciais por causa da idade e tem de ser simplesmente actos de humanidade. Porquê? Muito simples. Os idosos são seres humanos e também podem ser maus. Frequentemente esquecemos que as pessoas da nossa faixa etária ou da dos nossos pais também envelhecem. Se considerarmos recentes estudos que encontraram uma ligação causal entre a ruindade e a sobrevivência a doenças graves, especialmente oncológicas ou autoimunes, tudo se torna mais claro. Estudos esses que defendem que a ruindade potencia o sistema imunitário. Então não restam dúvidas! Há por aí muito filho-da-p#%& velho! Tomar nota.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A Nossa Revolução


Quem me dera fazer uma revolução. Mas as revoluções merecem-se. Se houvesse um número limitado de revoluções a atribuir aos países da terra, tipo 50 ou até 100, nunca conseguiríamos ficar com uma. As revoluções merecem-se. São para quem realmente sofre. Claro que há sofrimento em Portugal, claro que há miséria da mais miserável, injustiça da mais injusta e pobreza da mais pobre. Mas há muitos sítios onde há mais, muito mais. Termos uma revolução, no contexto actual mundial, era como uma pessoa com gripe ter direito a uma cirurgia. É como dar uma fatia extra de bolo ao puto obeso. Sinto que não merecemos uma revolução. Não sofremos o suficiente para termos uma. As revoluções são para os sítios onde é flagrante. São para os países onde tanto lá dentro como fora se sabe quem manda e porque manda. São para os lugares onde se manda calar não no tribunal mas na rua. São para onde as mordaças não vem com uma convocatória do tribunal mas com uma arma encostada à cabeça. São para onde não existe pena suspensa. Gostava que tivéssemos uma revolução mas não saberia contra quem. As revoluções fazem-se para uma coisa contra a outra. E ambas claramente identificadas. Fazem-se pela liberdade contra o ditador. Fazem-se pela educação e pela comida contra a morte arbitrária. Fazem-se porque há alguém que diz quero assim e ninguém pode fazer nada porque matam-no a ele e à família. Gostava de ter uma revolução mas não saberia contra quem fazê-la porque todos somos um pouco culpados. Não é como nos países onde há meia dúzia que fazem mal e cem que comem e calam. Aqui todos fazemos um pouco mal e todos temos de comer. A única revolução possível em Portugal é também a única de que precisamos. É uma revolução dentro de nós próprios, nos nossos actos de todos os dias. E não é uma revolução feita por meia dúzia de capitães, não basta. Não basta uma revolução feita por meia dúzia de pessoas, fossem eles todos os políticos com cargos executivos. A nossa revolução não pode ser feita nem de cima para baixo, nem de baixo para cima. Tem de ser feita de dentro para fora. A nossa revolução é feita pelo sorriso e pela responsabilidade. Pela tolerância e pela honestidade. Pelo passou-bem e pelo trabalho. O estado a que nós chegamos foi o estado que fizemos. Não é Sócrates nem Louça, nem Portas e Santana. Sou eu e és tu. Estas revoluções são morosas e complicadas, são evolução. Não metem pessoas nas ruas nem armas à mão. Estas revoluções são feitas pelos actos diários de pais, mães, filhos e filhas. Estas revoluções fazem-se pelo exemplo. Estas revoluções não se fazem para nós, fazem-se pelo vizinho. É possível fazer cozido-à-portuguesa e chegar a horas ao trabalho. 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ovos Fraternos II

Jornalismo Desportivo Português II

(...) Arrastava-se deprimente no mesmo tom: confuso e deprimido, os pés em brasa, o coração em sobressalto, desamparado até à medula, a afogar-se nas águas turvas das suas contradições e dos seus desalinhos, das fraquezas e dos seus abalos. (...)

Não, caros leitores, o título deste texto não é equívoco ou resultado de uma qualquer distracção minha. Este é um excerto da bela e valiosa-em-termos-literários forma com que o Jornal A Bola do passado sábado descreve as incidências do jogo que opôs o Sporting Clube de Portugal à Associação Naval 1º de Maio. Posto nestes termos, tudo isto parece ser a transcrição de alguma flash interview em que Manuel Machado tentaria transmitir a ideia de que o Sporting perdeu o meio-campo e, consequentemente, o controlo do jogo depois do terceiro golo da Naval. Mas não, caros leitores. O crédito destas palavras não cai em mim ou em Manuel Machado, mas sim em António Simões, cronista d'A Bola.

Ao Jornal A Bola, por saber escolher a dedo os seus cronistas, de entre possíveis vencedores do Prémio José Saramago, na sua vertente literária desportiva, e a António Simões, em particular, os meus sinceros parabéns e a certeza que nos encontraremos na gala que este blog organizará e que premiará os melhores na arte de escrever desporto.

Até à vista.

Escrito por Michael Steven F. Lopes

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