segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Partilhas de Outre-mer

Aqui tem uma tradução livre de uma crónica de Pierre Foglia publicada no La Presse a 29 de Outubro do presente ano. O texto é uma delícia e o original pode ser encontrado aqui.


Sabem como tenho medo da morte. Claro que sabem, já vos o disse mil vezes. Pois bem, veio-me à cabeça o outro dia um medo ainda maior do que o da minha morte: a morte da minha noiva. Nunca tinha pensado nisso até agora tal estava estabelecido que eu morreria primeiro. Veio-me de repente: e se for ela?
Elle estava a passar o aspirador quando pimba, o aspirador avariou.
Arranja-me a chave-de-fendas.
É ela que diz isso. Eu, na minha vida, nunca disse a ninguém "arranja-me a chave-de-fendas". Meu deus, que faria eu de uma chave-de-fendas? Ela, pelo contrário, di-mo-lo uma ou duas vezes por semana. Nunca fiz as contas, mas tenho quase a certeza do que vou afirmar: esta moça disse-me mais vezes "arranja-me a chave-de-fendas" do que "amo-te".
Vou buscar a chave de fendas à cave.
Não! Não é essa!
Não quero dar-vos uma má impressão da minha noiva. Deviam vê-la quando ela veste o seu vestido azul, é de cortar o fôlego. Mas quando é necessário uma chave-de-fendas de cabeça lisa não é uma chave-de-fendas de cabeça quadrada. Pronto, é assim.
É o da pega vermelha!
Fala-me a cantar, amor! O vermelho, não há que enganar. Demorou dois minutos com o vermelho, vroum, vroum, o aspirador estava como novo. Foi aí que me passou pela cabeça: e se ela morrer? Devo ter ficado com um ar aterrado porque ela parou de imediato o aspirador: 'tá tudo bem?
Eu, sim. Mas e tu? Não vais morrer pois não?
Porque é que dizes isso?
Porque. Como é que iria fazer com o aspirador, e o aquecimento central, para tudo basicamente, ouvi o senhor a dizer-te o outro dia que era necessário não esquecer de pôr óleo no limpa-neves no início do inverno.
Punhas e pronto.
Olha-me esta! E em que sítio?
No outro dia, falhou a luz. Ela não estava em casa. A luz voltou algumas horas mais tarde, mas não tinha água. Disse-lhe ao telefone: não temos água. É normal, explica-me, quando ficamos sem electricidade durante algumas horas, é preciso reiniciar a bomba. 
A bomba? A bomba onde? Temos disso?
Vêem a grande desgraça que seria a minha se ela desaparecesse. E os gatos? São dela, esses gatinhos, para eles só sou uma solução de recurso, um padrasto, não conto de facto. Eles vão ficar de trombas comigo se ela não estiver por cá. Excepto Tonton, Tonton gosta de mim porque lhe dou doritos às escondidas, descobri que ele gostava de doritos.
Resumindo, não paro de lhe perguntar se está tudo bem. Tens a certeza, querida, está tudo bem? Estás um pouco pálida. Ontem à tarde, ela subiu ao telhado para limpar a chaminé. Ou melhor, a chaminé está no segundo telhado, ela chega ao primeiro pela janela do quarto, daí encosta um escadote para subir ao segundo telhado e a partir daí então gatinha até à chaminé.  
'Tás doida, pá?
Tenho sonhos retorcidos. Ontem à noite, sonhei que tinha posto um anúncio para a substituir. O pátio estava cheio de candidatas. Fazia-as passar o teste da chave-de-fendas. Depois, fazia-as experimentar o vestido azul. Até havia um senhor no grupo, Ronald, chamava-se, safou-se com a chave-de-fendas, mas o vestido azul, então aí, oh pá! Nada, nadinha! Demasiado pequeno, demasiado azul, estava ridículo, comecei a rir.
Ris enquanto dormes agora?
É porque estou contente.
Porque é que estás contente?
Porque não estás morta.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Hello darkness, my old friend

http://www.youtube.com/watch?v=8mkp-Of8sZQ

Hello darkness my old friend
I've come to talk with you again

And in the naked light I saw
People talking without speaking
People hearing without listening

Fool said how do you not know?
Silence like a cancer grows

But my words like silent drops fell
and echoed in the wells of silence

People bowed and prayed
to the neon god they made.