Gritos, sangue e espadas a verem a luz do dia, a verem a luz da noite. Fogo, sangue gritos. Quando a paixão da causa se celebra na morte. Quando o frenesim do caos coroa a ambição, quem não desembainharia a espada!? Cobarde sejas que te ajoelhas perante a força que não é tua! Cobarde sejas que deixas a luz da tua liberdade apagar-se pelo vento das trevas, pelo sopro da ignorância! Cobarde sejas..
A vida sofre que se lhe faça acto de devoção com a calma idílica do cenário de alvor primaveril. Quão bonita é a pequena ribeira que canta a sua passagem pelas bermas verdejantes, acariciada pelas ramagens dos chorões. Mas a vida é uma peça a dois tempos. E se há momentos de acalmia, também têm de os haver em que o silêncio é rasgado pelo urro da dor, da violência e da morte. E então a bonita ribeira transforma-se. O seu desfiar esporado pela trovoada levanta ondas zangadas que abatem os salgueiros e conspurcam as beiras de lama e raiva. O bramir ensurdecedor de uma natureza zangada com o Homem e com deus varre em segundos o que demorou vidas a ser. Os clarões existem apenas para o vislumbre da catacumba que se aproxima. Um momento de claridade, mas um momento de claridade fria, azulada, imbuída do terror que causa. A clarividência do fim.
Nesses momentos em que tudo é caos, nesses momentos em que o coração dos valorosos se vela de medo. De Medo, aquele que a criança é a única a reconhecer, limpa de ideias, virgem de recursos, aquele da mais completa impotência. Esse, só, mas completo. Nesses momentos, também se está vivo. E até talvez se esteja mais. Está-se perante a Morte.