sexta-feira, 4 de maio de 2012
Cair
O prazer de cair. Não falo de cair num abismo. Falo do cair da infância. O cair que leva a mãe a dizer: "João Miguel! Já viste como tens os joelhos?!?". O cair que faz crostas e manchas de mercúrio-cromo. Entretanto também nos desfizemos do mercúrio, faz cancro, dizem. A partir de uma certa idade já não se cai. Já não se brinca na rua. Já não se sobem árvores. Já não se joga à apanhada. Já não se cai. É algo que só volta, já tarde na vida e com consequências mais dramáticas, consta. O cair desaparece da rotina, insensivelmente. E puff. Já não se cai. É uma pena. Ontem caí. Estava a correr. Um alegre descontrolo na expectativa de um fim menos ou mais ruim. Fez crosta no cotovelo. Soube-me pela vida.
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