sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Femme I

Aguardo. Ela chega. Bela, estonteante, dona de uma daquelas belezas que fizeram o Homem criar Deus para explicá-la. Perfeita. Delicada mas segura. Feminina. Vestida de Mulher. Advinham-se formas mas sem ultrapassar a barreira imaginária do bom gosto. Sensualmente subtil ou subtilmente sensual. Vejo-a vir até mim. Com um andar ligeiramente ondulante. Meu Deus. Abro-os braços para a receber ciente do erro. A única recepção digna seria cair de joelhos em adoração. Sinto o corpo dela contra o meu, quente. Embriegado pelo perfume deixo as minhas mãos percorrer as suas costas. Seus lábios vermelhos, húmidos, entreabertos pedem um beijo. A vontade é pegar na boca dela e beijá-la sofregadamente, mas não dá, não pode. Troca-se um suave beijo. As caras aproximam-se e os lábios fecham-se uns sobre os outros, os meus sobre os dela, os dela sobre os meus, numa leve carícia. O tempo soluça quando momentos assim acontecem. Mão dada fazemos o resto do caminho a pé, em silêncio, silêncio ensurcedor de desejo. Sorte. Antecipa-se o que irá acontecer prolongando o prazer com essa segura espera. Mas quem fez sabe que mulheres destas não são de ninguém e só de si mesmas. Tê-la, por mais brevemente que seja, é um privilégio almejado por todos e alcançado por poucos. Mas todos sabemos. Todos sabemos que é apenas um momento, um instante, efémero. É uma pedra que brilha de mil fogos. Talvez apenas um momento na vida, mas inequivocavelmente a vida num momento.

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