segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Irritantices II
Quando estás numa biblioteca a estudar e a idiota à tua frente está a teclar no computador como se pretendesse magoar as teclas do teclado. Juro que há letras que ela parecia querer matar!
sábado, 6 de outubro de 2012
Irritantices I
As torneiras dos lavabos públicos cuja tubagem é tão curta que é IMPOSSÍVEL lavar as mãos sem as esfregar copiosamente na porcelana da pia.
Porquê?!?
Tinham um modelo para crianças, não resultou, e estão a tentar esgotar o stock acumulado? São anões que fazem o design dessas torneiras? Quem é responsável por aquelas estúpidas torneiras? E estão por todo o lado! Aposto que é o modelo mais vendido! Então os administradores das fábricas pensam: "Vamos fazer mais! Estão a vender tão bem!" E o ciclo perpetua-se indefinidamente!..
A sério... Ridículo!
Porquê?!?
Tinham um modelo para crianças, não resultou, e estão a tentar esgotar o stock acumulado? São anões que fazem o design dessas torneiras? Quem é responsável por aquelas estúpidas torneiras? E estão por todo o lado! Aposto que é o modelo mais vendido! Então os administradores das fábricas pensam: "Vamos fazer mais! Estão a vender tão bem!" E o ciclo perpetua-se indefinidamente!..
A sério... Ridículo!
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Crises
"- Asneiras! [...] Tudo às claras, e só para o aumento dos salários... Deixem-me em paz, com a vossa evolução! Ateiem fogos aos quatro cantos das cidades, ceifem os povos, e quando não sobrar nada deste mundo podre, talvez cresça um melhor."
"– Des bêtises ! [...] Tout au grand jour, et uniquement pour la hausse des salaires... Fichez- moi donc la paix, avec votre évolution ! Allumez le feu aux quatre coins des villes, fauchez les peuples, rasez tout, et quand il ne restera plus rien de ce monde pourri, peut-être en repoussera-t-il un meilleur."
Partie 3, Chapitre III, Germinal de Émile Zola
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
domingo, 23 de setembro de 2012
História descritiva, não história explicativa
"Une locomotive est en marche. On demande: pourquoi marche-t-elle? Un paysan dit: c'est le diable qui la fait avancer. Un autre dit: la locomotive marche parce que les roues tournent. Un troisième: la cause du mouvement est dans la fumée qu'emporte le vent.
La réponse du paysan est irréfutable: on ne pourrait la réfuter qu'en lui démontrant que le diable n'existe pas, ou qu'un autre paysan lui prouve que ce n'est pas le diable, mais un Allemand qui fait marcher la locomotive. Alors seulement la contradiction leur fera voir que tous deux ont tort. Mais celui qui dit que la cause est le mouvement des roues se réfute lui-même, car s'il s'est engagé sur le terrain de l'analyse, il doit aller toujours plus loin: il doit trouver la cause du mouvement des roues. Et jusqu'à ce qu'il arrive à la dernière cause de la marche de la locomotive, à la vapeur sous pression dans la chaudière, il n'aura pas le droit de s'arrêter dans la recherche des causes. Quant à celui qui a expliqué le mouvement de la locomotive parce que le vent emporte la fumée en arrière, voyant que les roues ne fournissent pas la cause, il s'est saisi du premier signe venu et l'a cité comme cause.
La seule notion qui puisse expliquer la marche de la locomotive est celle d'une force égale au mouvement visible.
La seule notion susceptible d'expliquer le mouvement des peuples est celle de la force égale au mouvement total des peuples.
[...]
Tant qu'on écrira l'histoire des individus - des César, des Alexandre, des Luther ou des Voltaire - et non pas l'histoire de TOUS les hommes, de TOUS ceux, sans une seule exception, qui ont participé à l'événement, il est impossible de décrire le mouvement de l'humanité sans faire appel à la notion d'une force qui oblige les hommes à diriger leurs activités vers un seul but."
in "Guerre et Paix II" de Léon Tolstoï, folio classique, Ed. Gallimard
La réponse du paysan est irréfutable: on ne pourrait la réfuter qu'en lui démontrant que le diable n'existe pas, ou qu'un autre paysan lui prouve que ce n'est pas le diable, mais un Allemand qui fait marcher la locomotive. Alors seulement la contradiction leur fera voir que tous deux ont tort. Mais celui qui dit que la cause est le mouvement des roues se réfute lui-même, car s'il s'est engagé sur le terrain de l'analyse, il doit aller toujours plus loin: il doit trouver la cause du mouvement des roues. Et jusqu'à ce qu'il arrive à la dernière cause de la marche de la locomotive, à la vapeur sous pression dans la chaudière, il n'aura pas le droit de s'arrêter dans la recherche des causes. Quant à celui qui a expliqué le mouvement de la locomotive parce que le vent emporte la fumée en arrière, voyant que les roues ne fournissent pas la cause, il s'est saisi du premier signe venu et l'a cité comme cause.
La seule notion qui puisse expliquer la marche de la locomotive est celle d'une force égale au mouvement visible.
La seule notion susceptible d'expliquer le mouvement des peuples est celle de la force égale au mouvement total des peuples.
[...]
Tant qu'on écrira l'histoire des individus - des César, des Alexandre, des Luther ou des Voltaire - et non pas l'histoire de TOUS les hommes, de TOUS ceux, sans une seule exception, qui ont participé à l'événement, il est impossible de décrire le mouvement de l'humanité sans faire appel à la notion d'une force qui oblige les hommes à diriger leurs activités vers un seul but."
in "Guerre et Paix II" de Léon Tolstoï, folio classique, Ed. Gallimard
sábado, 15 de setembro de 2012
Porque é que hoje vou passar o aspirador
Porque
é que hoje vou passar o aspirador e arrumar as capas.
Hoje,
por volta das 17h, várias cidades do país serão palco de manifestações de
protesto. O slogan ou a frase chave é: "Que se lixe a troika, queremos as
nossas vidas de volta".
Hoje,
não irei manifestar-me. Não que tenha a ilusão que os motivos possam interessar
alguém, mas preciso de explaná-los, por escrito, por mim, para mim.
Acredito
na manifestação como uma poderosa ferramenta política. Não a desdenho, nem olho
para ela com sobranceria. Creio que ela serve de alavanca para fazer avançar
uma causa e daí o seu timing e a sua
liderança serem sempre cruciais para o seu sucesso.
A
manifestação de hoje é uma manifestação de protesto. Não defende nenhum caminho
alternativo específico ou defende tantos que é como se não defendesse nenhum.
Outra vez, as manifestações de protesto são úteis e tem a sua razão de ser.
Pessoalmente, prefiro gritar por algo do que apenas contra algo. É uma
preferência pessoal e em nada interfere com a utilidade que vejo nas
manifestações de protesto, no seu papel crucial para revoluções e evolução.
Hoje
não me vou manifestar. Mas também não vou ficar em casa ou ficar no sofá. Estas
invectivas tem sido usadas para injuriar, ou pelo menos desconsiderar, os que
não se irão manifestar hoje. Não concordo. Para além de me parecer demagogia
barata, creio que é profundamente contra-producente se o objectivo é convencer
os indecisos a manifestarem-se também. Para além de ter um travo de extremismo
e intolerância nada agradável. A lógica do “ou estás comigo ou estás contra
mim” carrega uma carga demasiado negativa para ter efeitos benéficos.
A
mudança e a evolução fazem-se pela união. Considero tão censurável o discurso
que condena quem hoje não se irá manifestar como o que critica quem o irá fazer.
Soa tão mal ao meu ouvido o “vai mas é trabalhar preguiçoso” como o “se isto
não muda é por culpa de pessoas como tu que ficam em casa”. Se o debate e a
troca de ideias é saudável, criar divisões não faz avançar nenhuma causa. Para
que esta sociedade evolua, para que este país se torne num sítio melhor para se
viver são tão essenciais os que hoje estão na rua como os que não estão. Ambos
são fundamentais para a mudança e, só com ambos, ela acontecerá. Não entender
isto, é não perceber que dão mais jeito duas mãos para construir uma casa que
só uma.
Claro
que o estado da política nacional é lastimável, e também, já agora, o da Saúde,
o da Educação e o da Justiça. Mas vejo tanto de certo e de errado quando olho
para a massa dos deputados na Assembleia da República como quando olho para
mim, para nós, para a massa do Povo. Acredito que eles apenas nos espelham.
Eles somos nós. Isso frustra-me e irrita-me e acredito que boa parte do
que motiva, tanto os manifestantes como os que não se irão manifestar, é essa
frustração. Os defeitos deles, são os nossos.
Entre
um professor que deixa copiar nos seus exames, um aluno que assina por outro uma
presença, um empresário que não paga impostos e um político que usa de
compadrio e favorecimento, não distingo diferença de comportamentos, não
distingo diferença de valores, não distingo diferença de moralidade, apenas, eventualmente,
uma nuance no impacto do acto. Só.
Mais nada. É nesse sentido que estou perplexo. Manifestarmo-nos contra os
políticos, ok. Mas, e porque não contra os estudantes que copiam?
Não
acredito que sejamos melhores ou piores que outras sociedades ou outras nações.
Penso que iniciámos um vício e agora não conseguimos sair dele. Acredito que
algures na história, não sei onde, não sei quando, perdemos a noção que as
instituições foram criadas por nós e para nós, para vivermos melhor em
conjunto, em sociedade. Não contra nós. Não nos foram impostas.
Algures
no tempo, num momento qualquer, alguém não pagou impostos e quem testemunhou em
vez de raciocinar: "isto está errado, ele não paga impostos logo está a
roubar-me, tenho de fazê-lo ver razão ou então denunciá-lo, ele está a
prejudicar-me a mim, aos meus filhos, aos meus vizinhos, etc." pensou:
"ele não está a pagar, fica com mais dinheiro, se eu fizer o mesmo, também
fico" e esta lógica imperou e alastrou
de tal maneira que os valores foram subvertidos. Honestidade tornou-se sinónimo
de papalvice e trapacearia de inteligência. Enquanto esta lógica não for
invertida, é indiferente a cor política dos governos, é indiferente o número ou
o tamanho das manifestações, é indiferente a existência de crises económicas e
financeiras internacionais, nós, estaremos sempre em crise.
Mea
culpa. Na comunidade onde estou inserido podia ter-me manifestado muito mais. Na
faculdade, no município e outros testemunhei actos questionáveis. Podia e devia
tê-los denunciado. Ainda tentei, mas pouco. Muito pouco.
Acredito
que o impacto para a evolução do nosso país e da nossa sociedade se fará
melhor, mais rapidamente e até talvez unicamente, se a manifestação ocorrer no
dia-a-dia, no local de estudo, no local de trabalho. Em prol da correção das
ilegalidades e das amoralidades, no respeito da divergência de opiniões e na intolerância
da desonestidade, sejam quais forem as consequências pessoais.
Hoje
não vou manifestar-me na rua. Eis o que vou fazer: tentar, pelas minhas acções
e comportamentos, ser exemplar. Viver de acordo com os valores humanistas que
norteiam as sociedades, honestidade, tolerância, respeito do próximo e tornar-me
a melhor pessoa que consiga. Denunciar e se possível corrigir as situações à
minha volta que gritem injustiça ou incompetência.
Isso
será, para já, o meu acto de manifesto. Não tenho a ilusão de o conseguir mas
esforçar-me hei nesse sentido. Sei que irei errar mais que muitas vezes, mas tenho
a certeza que este tipo de manifestação é tão ou mais necessário que a
manifestação de protesto de hoje e, para já, será o tipo que adoptarei. Talvez
mais para a frente, quando o momento me parecer mais oportuno, desça à rua com
o meu cartaz e os meus pulmões.
Hoje
não vou ficar em casa por preguiça. Hoje não vou ficar em casa no sofá. Hoje
vou arrumar a casa, passar o aspirador e ordenar capas e papelada que o ano
lectivo já começou.
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Que reste-t-il?
La vie ne s'achète pas. Elle se défend, comme disait Madame Rosa. Seulement, même la défense, si défense il y a, s'avère un fruit amère qui irrite la gorge et se termine en vomissure. Que de tentatives frustrées. Que de défis relevés sans rien après. Que d'énergies gaspillées. Que reste-t-il lorsque tout fût tenté? Que reste-t-il? Le silence.
Zut
Os momentos desencontram-se. É próprio deles. Se eu soubesse de antemão, faria-os coincidirem. Mas não sabia. Como me pode ser imputado culpa do que eu desconhecia? Não é. Mas quem paga sou eu. O meu sorriso morre por acasos. A minha felicidade murcha por culpa do acaso. Quem es tu acaso ou sorte para me punir assim? Que mal te fiz eu? Raios te partam acaso de merda. Vai para bardamerda. Os casos e acasos fazem-se e desfazem-se por conta de uma força que me escapa e são eles que definem. Por alma de quem? Grito e soluço no escuro da noite que fica sempre sem resposta. Dúvida eterna mas nem por isso descomplicada.
Quando as trevas tomam conta da vida. Quando a pergunta fica invariavelmente sem resposta. Quando isto é assim e pronto, o porquê é fraco, o porquê é constante, o porquê mata. Último folgo de uma esperança enterrada. Último sobressalto de uma vida passada. Morre e desaparece, que a tua visão me enjoa.
Rien
Que fiz eu com as horas?
Que fiz eu com os dias?
Foram passando,
Não dei conta.
Foram-se gastando
Não dei conta.
E agora, encontro-me,
perante...
E nada.
Que fiz eu?
Nada.
Et les secondes s'égrènent
Et persistent,
je ne vaut rien.
Vida madrasta,
Não me avisaste.
Os momentos são determinados.
As épocas tem destino.
Mas eu não sabia.
Deixei-os passar.
E agora,
Nada.
Que fiz eu com os dias?
Foram passando,
Não dei conta.
Foram-se gastando
Não dei conta.
E agora, encontro-me,
perante...
E nada.
Que fiz eu?
Nada.
Et les secondes s'égrènent
Et persistent,
je ne vaut rien.
Vida madrasta,
Não me avisaste.
Os momentos são determinados.
As épocas tem destino.
Mas eu não sabia.
Deixei-os passar.
E agora,
Nada.
sábado, 8 de setembro de 2012
Gnomos a horas
Despertei às 10h10 sem despertador. Obviamente, agora vou ter de convidar um gnomo para a minha equipa de sueca. That's life.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
sábado, 1 de setembro de 2012
Perfection Musicale
Sabes que uma música é perfeita quando pretendias ouvir uma, enganas-te, pões outra a tocar, mas não mudas porque é demasiado boa para não ser ouvida até ao fim. Esta é uma dessas. Enjoy.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
C'est la vie
A ansiedade do receio. Saber se os projectos são meramente ilusórios. Medo do insucesso. Medo de falhar a vida porque só há uma. Uma oportunidade apenas. Não há recurso. Não há época de conclusão para a vida. Às vezes, os sortudos, eu, temos segundas oportunidades. E se essa também falhar? Que restará? Que rumo tomar? Haverá um rumo? A vida planeia-se ou deixa-se levar? É como um texto que se vai escrevendo, deixando fluir o que vem sem barreiras nem crivo? Ou esquematiza-se, planeia-se e projecta-se? L'homme propose et dieu dispose. Até onde? Até que ponto? A velocidade da vida é tanta. Demasiada. Dúvidas, dúvidas, dúvidas e angústia. A Angústia de viver sem saber como. Manual de instruções requer-se. Nem que seja para o subverter, ignorar ou contradizer. Bah.
domingo, 26 de agosto de 2012
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Consumismo
"Speaking at an international event series of lectures called Creative Mornings, artist Jonathan Harris argued, “Curation is replacing creation as a mode of self-expression.” What he meant is that we no longer produce, we just intelligently consume, and the consumption is our primary outlet for satiating creative urges. Carina Chocano, writing in the New York Times, is more accurate in describing this curation as satisfying “visual addictions” rather than forming true self-expression."
http://www.artinfo.com/news/story/817400/how-the-art-worlds-lingo-of-exclusivity-took-root-branched-out-and-then-rotted-from-within
http://www.artinfo.com/news/story/817400/how-the-art-worlds-lingo-of-exclusivity-took-root-branched-out-and-then-rotted-from-within
sábado, 11 de agosto de 2012
Coquetterie
Em companhia animada e interessante, esqueces por momentos perante quem estás e deixas-te levar pelo prazer da conversa. Apenas vês o ser humano, teu igual, teu semelhante e num momento de répit, a pessoa deixa escapar que apesar do seu inquestionável amor pelos animais, se o cão a tivesse mordido na perna e não na mão, não se tinha livrado de boa. Indagas "Porquê?" Ouves: "Porque tenho pernas mesmo giras!" numa indignação do óbvio. Vês a mulher à tua frente, vês toda a sua feminidade e coquetterie consubstanciadas numa frase. Os innuendos, os sub-entendidos, uma frase tão rica de intensidade, sabores e sentido. E tão deliciosamente transformada pela expressividade, pelo olhar, pela cara, pelo sorriso. Que óptimo. Que delícia. Quão mulher e quão bem lhe fica.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Nostalgia
"LE TEMPS dES FRAISES - Quand j'étais petit, il y avait des fraises dans notre jardin, mais on ne devenait pas fou avec ça, c'était juste des fraises, tout le monde en avait dans son jardin, même les pauvres, tout le monde les mangeait dans du lait, ou avec du vin. Elles étaient petites, sucrées et elles goûtaient la fraise. Vous allez me dire, c'est normal, c'était des fraises.
Ben d'abord, vous qui savez tout, pourquoi les fraises d'aujourd'hui ne goûtent pas la fraise? Pourquoi elles ne goûtent rien? Pourquoi elles sont grosses comme des potirons avec, parfois, quand on les ouvre, un creux dans le milieu avec une membrane dans le creux.
Dis, grand-papa, c'est quoi, la nostalgie?
C'est un goût de fraise, chérie."
Pierre Foglia, in La Presse
Publié le 07 juin 2012 à 00h00
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Cair
O prazer de cair. Não falo de cair num abismo. Falo do cair da infância. O cair que leva a mãe a dizer: "João Miguel! Já viste como tens os joelhos?!?". O cair que faz crostas e manchas de mercúrio-cromo. Entretanto também nos desfizemos do mercúrio, faz cancro, dizem. A partir de uma certa idade já não se cai. Já não se brinca na rua. Já não se sobem árvores. Já não se joga à apanhada. Já não se cai. É algo que só volta, já tarde na vida e com consequências mais dramáticas, consta. O cair desaparece da rotina, insensivelmente. E puff. Já não se cai. É uma pena. Ontem caí. Estava a correr. Um alegre descontrolo na expectativa de um fim menos ou mais ruim. Fez crosta no cotovelo. Soube-me pela vida.
sábado, 28 de abril de 2012
Mort
"La vieillesse est un long combat en retraite contre la mort. Et bien qu'on soit assuré, à la fin, d'être vaincu, on se doit à soi-même de combattre pied à pied avec une entière résolution et s'il se peut, en se tenant en joie."
Fortune de France - La volte des vertugadins, Robert Merle, ed. de fallois, 1991.
Fortune de France - La volte des vertugadins, Robert Merle, ed. de fallois, 1991.
Tragédia Boa ou a Metáfora do Quivi
(se possível, completar a prosa em falta deste magnífico título)
terça-feira, 24 de abril de 2012
Noctivagar sentado
Caracterizar o prazer da calma noite por palavras. No limite do estúpido. Tentemos. O silêncio, sereno e pacificador benfeitor para almas de alguma tormenta. O barulho do dia é tão intenso, numa cidade, que devia de haver postos de silêncio espalhadas pela urbe para os aflitos de sons. Dificilmente se passam bons momentos consigo próprio, sem um silêncio de quando a quando. Até os barulhos ganham outra cor, quando enquadrados numa moldura silenciosa. O carro a passar. Ao longe, perto e ao longe de novo. E depois nada. Contentamento. Uma gargalhada de mulher com o seu indutor ao braço. Longe, perto e longe de novo. Uns passos no andar de cima. Provavelmente, uma bexiga idosa a pagar a vida que passou. Uma porta mal apetrechada que assinala a corrente de ar. Depois, esporádicos, sons incaracterizáveis. Talvez tenha sido a mala de um carro a ser fechada. Talvez não.
(barulho é uma palavra incivilmente estranha. faz de conta que não falas português. agora na pele dum estrangeiro, pronuncia-a, devagar. parece o nome de um animal quadrípede comum mas não doméstico, não? Regarde le "barulho" qui monte à l'arbre! Do you see the "barulho" picking the trash? Estes barulhos são uma praga na cidade. Pior que as gaivotas!)
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Grito na conversa ii
É difícil. Até caracterizar! Quanto mais compreender.. Como um rio que invade o peito. Águas desvairadas. Sua força puxa, aleija. É tão incompreensível que esboçar uma reacção, fosse qual fosse, não passa pela cabeça.
É um grave, puxado. Acompanhado de estalidos metálicos que prendem na carne. O limiar entre dor e incómodo. O olhar cegado pela luz do sol cuja visão está a voltar. Algures nessa banda de cinzenta indefinição.
Algo assim. Não sei. "My Kingdom for a horse!" I dare you.
É um grave, puxado. Acompanhado de estalidos metálicos que prendem na carne. O limiar entre dor e incómodo. O olhar cegado pela luz do sol cuja visão está a voltar. Algures nessa banda de cinzenta indefinição.
Algo assim. Não sei. "My Kingdom for a horse!" I dare you.
quinta-feira, 29 de março de 2012
Huile Parfumée de la Vallée de la Sagesse
Yeux d'amandes, cheveux en bataille, ne vous laissez pas désarmer par son air fragile. C'est une force de la nature que cette femme! Intelligence aiguë et perspicacité désarmante. Le dialogue rapidement se transforme en joute verbale et elle vous laisse la tête qui tourne. Croyez-moi, le vieille adage qui dit "ce que femme veut, dieu le veut" ne fut composé que pour s'appliquer à elle. D'un excellent goût, elle s'habille pour vous plaire, peut-être, mais pour se complaire surtout. Vert d'une jupe, les rayures d'une blouse, manière de mouler un corps de nymphe fait pour les caresses. On ne peut supposer que sa peau laiteuse ne soit de la douceur de la plus fine des soies. Faible description, bien le sais-je, mais sa coquetterie ne m'accorde qu'un accès restreint. Peut-être cette prose la fera changer d'idée.
segunda-feira, 26 de março de 2012
Vous serez pécheurs d'Âmes.
terça-feira, 13 de março de 2012
Melancholy
é um lugar familiar, um sítio onde se volta de quando a quando com um triste sorriso, uma gargalhada amarga ou lágrimas felizes. a volúpia de um sonho que deambula pelas ruas vazias mas cheias de memórias. é o infindável correr das águas, o inelutável tempo que se tenta apanhar com o mesmo sucesso com que se agarram nuvens. provam se estes momentos e sente-se o sumo a inundar a boca com um sabor demasiado doce, demasiado quente, enfastioso. é como estar sentado num cinema escuro testemunhando a própria vida a passar. talvez seja um pouco isso a melancolia.
domingo, 4 de março de 2012
Aurore Boréale
Levo duas vidas.
Uma está a correr bem, é empolgante, os projectos sucedem-se, o sucesso sorri-me, está sol. Essa está cheia de pessoas e gargalhadas, trabalho e desafios. É uma óptima vida! É uma vida que me desejo e desejaria a toda gente. Nessa vida riu e faço rir. Motivado, motivo outros. É uma vida sem medos e receios insensatos. Cheia de histórias, de conversas, jantares e livros, teatros e passeios. Os amigos acompanham-me nessa jornada e sustenta-mo-nos uns aos outros. O caminho nem sempre é fácil e raramente é claro, mas as escolhas fazem-se e afinal, é isso viver. Nessa vida tenho uma família que amo e que me apoia. Sou incrivelmente sortudo e a única maneira legítima de a agradecer é aproveitá-la e ajudar quando posso outros a terem a minha sorte. Essa é uma.
Outra, vive por momentos, na sombra, longe de olhares, no segredo da minha alma. Essa vem quando lhe apetece. Vem sempre acompanhada do teu sorriso. Toma a forma de um romance do século XIX ou de um daqueles clássicos intemporais, seja de que literatura for. Vem como uma música ou como um debate filosófico. Essa tem vida própria, no entanto, vive dentro de mim. É curioso porque descrevê-la é tão fácil quanto difícil, por mais antagónico e sem sentido que a afirmação pareça. Não a controlo. Pode vir quando está sol ou quando chove. De dia ou de noite. Às vezes é uma carícia perfumada trazida pela brisa, outras vezes é o teu olhar numa paisagem, numa flor, numa árvore. Mas o seu momento preferido é ao final do dia quando o sol aquece a sua última luz. Esse sol lembra-me de ti. Esse sol tem saudades tuas.
Uma está a correr bem, é empolgante, os projectos sucedem-se, o sucesso sorri-me, está sol. Essa está cheia de pessoas e gargalhadas, trabalho e desafios. É uma óptima vida! É uma vida que me desejo e desejaria a toda gente. Nessa vida riu e faço rir. Motivado, motivo outros. É uma vida sem medos e receios insensatos. Cheia de histórias, de conversas, jantares e livros, teatros e passeios. Os amigos acompanham-me nessa jornada e sustenta-mo-nos uns aos outros. O caminho nem sempre é fácil e raramente é claro, mas as escolhas fazem-se e afinal, é isso viver. Nessa vida tenho uma família que amo e que me apoia. Sou incrivelmente sortudo e a única maneira legítima de a agradecer é aproveitá-la e ajudar quando posso outros a terem a minha sorte. Essa é uma.
Outra, vive por momentos, na sombra, longe de olhares, no segredo da minha alma. Essa vem quando lhe apetece. Vem sempre acompanhada do teu sorriso. Toma a forma de um romance do século XIX ou de um daqueles clássicos intemporais, seja de que literatura for. Vem como uma música ou como um debate filosófico. Essa tem vida própria, no entanto, vive dentro de mim. É curioso porque descrevê-la é tão fácil quanto difícil, por mais antagónico e sem sentido que a afirmação pareça. Não a controlo. Pode vir quando está sol ou quando chove. De dia ou de noite. Às vezes é uma carícia perfumada trazida pela brisa, outras vezes é o teu olhar numa paisagem, numa flor, numa árvore. Mas o seu momento preferido é ao final do dia quando o sol aquece a sua última luz. Esse sol lembra-me de ti. Esse sol tem saudades tuas.
l'amitié
nasce-se. é-se. é a primeira ditadura imposta. ninguém escolhe nascer, é-se ipso facto e pronto.
liberdade é uma invenção humana. família também é essa falta de escolha. uns tem mais sorte, outros menos. são condicionantes impostas e não negociáveis.
porém uma escolha é dada, talvez a mais importante. escolhem-se os amigos. claro, dirão muitos, também essa é condicionada, verdade, mas esta é mutável. por demais que seja a circunstância, chega o momento em que a amizade é culpa ou sorte. não tenho a pretensão de pretender a minha amizade como fruto da minha clarividência, sei o papel que a sorte desempenhou. agora disto me gabo, podem invejar-me, tenho sorte.
um dia é uma folha em branco. é tábua rasa. pode-se ser o que se quer num novo dia. qualquer decisão tomada antes pode ficar sem efeito. novo rumo pode ser tomado. alvorada é liberdade absoluta. é um novo dia, uma nova vida. e apesar da circunstância, seja ela qual for, que prazer testemunhar o começo de um novo dia da presença dos que nos são próximos, senão pelo sangue, pelo coração.
há um deleitável prazer em testemunhar o acordar do dia na presença dos que amamos.
liberdade é uma invenção humana. família também é essa falta de escolha. uns tem mais sorte, outros menos. são condicionantes impostas e não negociáveis.
porém uma escolha é dada, talvez a mais importante. escolhem-se os amigos. claro, dirão muitos, também essa é condicionada, verdade, mas esta é mutável. por demais que seja a circunstância, chega o momento em que a amizade é culpa ou sorte. não tenho a pretensão de pretender a minha amizade como fruto da minha clarividência, sei o papel que a sorte desempenhou. agora disto me gabo, podem invejar-me, tenho sorte.
um dia é uma folha em branco. é tábua rasa. pode-se ser o que se quer num novo dia. qualquer decisão tomada antes pode ficar sem efeito. novo rumo pode ser tomado. alvorada é liberdade absoluta. é um novo dia, uma nova vida. e apesar da circunstância, seja ela qual for, que prazer testemunhar o começo de um novo dia da presença dos que nos são próximos, senão pelo sangue, pelo coração.
há um deleitável prazer em testemunhar o acordar do dia na presença dos que amamos.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Noite
Gritos, sangue e espadas a verem a luz do dia, a verem a luz da noite. Fogo, sangue gritos. Quando a paixão da causa se celebra na morte. Quando o frenesim do caos coroa a ambição, quem não desembainharia a espada!? Cobarde sejas que te ajoelhas perante a força que não é tua! Cobarde sejas que deixas a luz da tua liberdade apagar-se pelo vento das trevas, pelo sopro da ignorância! Cobarde sejas..
A vida sofre que se lhe faça acto de devoção com a calma idílica do cenário de alvor primaveril. Quão bonita é a pequena ribeira que canta a sua passagem pelas bermas verdejantes, acariciada pelas ramagens dos chorões. Mas a vida é uma peça a dois tempos. E se há momentos de acalmia, também têm de os haver em que o silêncio é rasgado pelo urro da dor, da violência e da morte. E então a bonita ribeira transforma-se. O seu desfiar esporado pela trovoada levanta ondas zangadas que abatem os salgueiros e conspurcam as beiras de lama e raiva. O bramir ensurdecedor de uma natureza zangada com o Homem e com deus varre em segundos o que demorou vidas a ser. Os clarões existem apenas para o vislumbre da catacumba que se aproxima. Um momento de claridade, mas um momento de claridade fria, azulada, imbuída do terror que causa. A clarividência do fim.
Nesses momentos em que tudo é caos, nesses momentos em que o coração dos valorosos se vela de medo. De Medo, aquele que a criança é a única a reconhecer, limpa de ideias, virgem de recursos, aquele da mais completa impotência. Esse, só, mas completo. Nesses momentos, também se está vivo. E até talvez se esteja mais. Está-se perante a Morte.
A vida sofre que se lhe faça acto de devoção com a calma idílica do cenário de alvor primaveril. Quão bonita é a pequena ribeira que canta a sua passagem pelas bermas verdejantes, acariciada pelas ramagens dos chorões. Mas a vida é uma peça a dois tempos. E se há momentos de acalmia, também têm de os haver em que o silêncio é rasgado pelo urro da dor, da violência e da morte. E então a bonita ribeira transforma-se. O seu desfiar esporado pela trovoada levanta ondas zangadas que abatem os salgueiros e conspurcam as beiras de lama e raiva. O bramir ensurdecedor de uma natureza zangada com o Homem e com deus varre em segundos o que demorou vidas a ser. Os clarões existem apenas para o vislumbre da catacumba que se aproxima. Um momento de claridade, mas um momento de claridade fria, azulada, imbuída do terror que causa. A clarividência do fim.
Nesses momentos em que tudo é caos, nesses momentos em que o coração dos valorosos se vela de medo. De Medo, aquele que a criança é a única a reconhecer, limpa de ideias, virgem de recursos, aquele da mais completa impotência. Esse, só, mas completo. Nesses momentos, também se está vivo. E até talvez se esteja mais. Está-se perante a Morte.
domingo, 22 de janeiro de 2012
tu
sei que es tu
que serás tu, mesmo que não seja
porque continuo a conversar contigo
a sonhar contigo
amo cada curva da tua silueta
sei porque te vejo
ao longe
reconheço a tua gargalhada entre mil
es fonte do meu saber e da minha ignorância
cada linha que escrevo é inspirada em ti
toda gargalhada que provoco é para te fazer rir
as minhas vitórias são-te dedicadas
quer saibas, quer não
a leitura dos silêncios é difícil
desconheço se as tuas bizarrias
são por o sentimento permanecer
ou apenas por te irritar
sei que provavelmente é impossível
a cultura pop vendeu e ganhou
fez-nos pensar que bastava amar
mas não é suficiente. importante mas não suficiente.
se sair daqui talvez te leve
se ficares talvez me queiras
uma coisa é imutável
o teu sorriso é o mais bonito que já vi
sei que es tu
que serás tu, mesmo que não seja
porque continuo a conversar contigo
a sonhar contigo
amo cada curva da tua silueta
sei porque te vejo
ao longe
reconheço a tua gargalhada entre mil
es fonte do meu saber e da minha ignorância
cada linha que escrevo é inspirada em ti
toda gargalhada que provoco é para te fazer rir
as minhas vitórias são-te dedicadas
quer saibas, quer não
a leitura dos silêncios é difícil
desconheço se as tuas bizarrias
são por o sentimento permanecer
ou apenas por te irritar
sei que provavelmente é impossível
a cultura pop vendeu e ganhou
fez-nos pensar que bastava amar
mas não é suficiente. importante mas não suficiente.
se sair daqui talvez te leve
se ficares talvez me queiras
uma coisa é imutável
o teu sorriso é o mais bonito que já vi
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